A Terraprojectos...
Foi em 1999 que iniciámos o nosso projeto, acreditar nas potencialidades do setor agroalimentar português, apostando nele. Hoje, em parceria com os nossos clientes ― e porque também eles acreditam ―, estamos convictos de que já contribuímos para o reforço da sua competitividade, valorização e inovação, é esse o nosso permanente desejo.

24 Set. 2019

PRAÇAS, SABOR A VERÃO

Sempre gostei de Praças. Eram sinónimo de férias. Ao longo de todo o ano, tínhamos o privilégio de ir à nossa horta: tomates, feijão-verde, cebolas, pepinos, alfaces, entre tantos outros hortícolas que eram plantados com uma missão – saber exactamente o que comíamos. Quando regressava da horta, no quintal mesmo à beira de casa, ouvia quase sempre a mesma expressão dos meus pais: «Estes sabemos de onde vêm. Água e terra, mais nada!». Uma privilegiada.
Privilégio que se estendia à possibilidade de, anualmente, irmos visitar as “mulheres das sete saias” – as nazarenas tinham o hábito de esperar os maridos e filhos, da volta da pesca, na praia, sentadas no areal, passando aí muitas horas de vigília. Usavam as várias saias para se cobrirem, as de cima para protegerem a cabeça e ombros do frio e da maresia e as restantes a taparem as pernas, estando desse modo sempre “compostas”. Todos os anos, passávamos 15 dias na praia da Nazaré, porque fazia bem à asma do meu pai, porque fazia bem às crianças (a mim é à minha irmã). Em boa verdade… porque fazia bem a todos. Arrendávamos casa a uma das praieiras que, sentadas na rua, nas suas cadeiras junto à estrada, debaixo dos chapéus-de-sol, faziam o seu reclame, não só às casas mas também às “barracas” que vestiam a praia de riscas vermelhas e azuis, tão típicas das praias do Oeste. Nós acabávamos sempre por ficar junto à bola Nivea.
Durante aqueles 15 dias, das coisas que mais gostava – para além dos mergulhos naquele mar que, embora revolto e gelado, era o meu preferido – era de ir à Praça pela maresia da manhã. Recordo a agitação, o reboliço entre quem comprava e vendia: «Oh freguesa, o que vai ser? Olhe que a sardinha está gordinhaaa!»; «Oh querida, pegue aqui nesta melancia, clap, clap, está no ponto, é à confiança, vizinha!». Era como se, de alguma forma, me aproximasse da “origem”, um despertar dos sentidos. Ali eu via, ouvia, cheirava e sentia. Mais do que a organização de um supermercado, a “verdade” dos produtos e de quem os vendia.
Hoje, continuo a ir à Praça. Durante o ano, tenho o privilégio de ter o Mercado de Campo de Ourique à porta, para além de continuar a recorrer à horta dos meus pais que me presenteiam, de toda e cada vez que os visito. Nas férias, embora lhe tenha trocado a geografia, continuo a deliciar-me com a “origem”, mais a Sul. Os tomates coração de boi, entre tantos outros produtos, dão sabor ao meu Verão e continuam a chamar por esta freguesa que, nestas férias, ao ler Agustina Bessa-Luís – «Sentindo, de cada vez, o quanto um lugar pode ser simultaneamente limitado e infinito, o espaço de raízes é ponto de partida para alcançar o mundo» –, se questiona se o gosto por comunicar a verdade dos produtos portugueses e das suas gentes vem daí. Da sua própria origem. Sempre gostei de Praças.
 
Gisela Pires
Marketing e Comunicação
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